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sábado, outubro 30, 2004
 
o picolé de chuchu e a balconista que escreve

no começo da noite da véspera do primeiro turno da eleição para prefeito, um sábado, 2 de outubro, eu estava em um bar que fica na praça da república, centro de são paulo.

freqüento esse lugar há anos, desde quando era um restaurante mais tradicional, com aqueles balcões que não se fazem mais, velhas mesas de madeira com toalhas de pano. a comida era razoavelmente boa.

já faz algum tempo, o lugar foi comprado por chineses, que fizeram uma reforma que transformou o restaurante em algo muito diferente, mais próximo de uma lanchonete.

a clientela também mudou. nos finais de semana, principalmente, lotam a lanchonete hippies que trabalham na feira de artesanato da praça, muitos de outros países da américa latina, turistas perdidos, africanos.

uma das cenas mais inusitadas que já presenciei ali, por sinal, envolveu um africano e uma das chinesas.

ela simplesmente não entendia o pedido do homem.

eu mesmo só entendi depois que ele repetiu, algumas vezes: “açaí”!

era isso: o africano pedia açaí para a chinesa, que não fazia a menor idéia do que se tratava.

ah, a globalização...

nos últimos tempos o lugar foi tomado por funcionários de uma empresa de telemarketing que se instalou em um prédio vizinho.

mas continua sendo freqüentado pelos hippies, pelos africanos, pelos turistas perdidos.

voltando ao sábado.

eu estava bebendo uma cerveja e lendo a folha de domingo,quando chegou o que parecia ser um grupo de amigos. um dos homens, com cara de picolé de chuchu, sentou bem ao meu lado e, mal chegou, me perguntou se era o jornal de domingo.

pensando se tratar de mais um daqueles chatos que puxam conversa em bar, mal olhei para o lado, e acabei passando o primeiro caderno do jornal para o homem.

a balconista à minha frente, olhou pra mim e disse baixinho:

- geraldo alckmin.

eu olhei para o lado e constatei: o homem que lia o meu jornal não tinha simplesmente cara de picolé de chuchu. era o picolé de chuchu em pessoa.

outro balconista perguntou para ele o que queria comer.

- o que vende mais?, perguntou.

- cheeseburguer, respondeu o balconista.

- então me dá um cheeseburguer.

o mesmo balconista perguntou para o homem em seguida:

- o senhor não é o ... geraldo alckmin?

- sou eu mesmo.

o bar virou uma festa.

o governador passou a acenar e a fazer sinal de positivo com os polegares pra todo mundo.

pessoas foram cumprimentá-lo. os chineses pegaram máquinas fotográficas e pediram para tirar fotografias com o homem.

um conhecido vendedor de discos da praça foi mostrar para ele sua correntinha com o símbolo do santos. acho que, entre outras coisas, o governador herdou de mário covas a predileção por esse time de futebol do litoral paulista.

alckmin foi para o outro lado do balcão algumas vezes, posar para fotos. senti vontade de pedir para que ele me desse outra cerveja. mas me contive.

um de seus acompanhantes trouxe então os jornais de domingo. ele me ofereceu o estadão. recusei. não resisti a perguntar:

- mas o senhor não é um sósia do governador?

- não, sou eu mesmo, ele respondeu.

e era.

ao ir embora, se despediu de mim, apertou minha mão, e eu fiquei sem saber o que dizer. acabei pedindo desculpas por não tê-lo reconhecido.

...

hoje é véspera do segundo turno.

um dia estranho, que pode ser o último de um longo ciclo em minha vida.

ou não.

será que o picolé de chuchu aparece de novo na lanchonete? vou lá ver.

...

um detalhe interessante.

quando o governador foi embora, a balconista que tinha me chamado a atenção para a presença do homem disse:

- dá vontade de escrever sobre isso!

depois de ouvir a frase, puxei conversa, claro, e descobri que, balconista há dois anos, ela tem o costume de escrever as histórias que presencia nos bares em que trabalha.

como não tem computador, ela faz isso em cadernos. disse que uma pessoa se ofereceu para “passar para o computador” os textos que ela escreve.

se eu tivesse tempo, eu mesmo o faria.

mas ainda acabo ajudando a menina a pelo menos criar um blog.


sexta-feira, outubro 29, 2004

 
hora de ir embora

chrissie hynde, vocalista do pretenders, que fez show ontem em são paulo, sobre o que sentiu nas ruas da cidade:

"senti a mesma energia que eu via nos eua durante os anos 60. todas as pessoas com quem cruzei foram muito amáveis, com uma mentalidade bem hippie, coisa que adoro".


sábado, outubro 23, 2004

sexta-feira, outubro 22, 2004
 


...the love song is the noise of love itself and love is, of course, a form of madness...

tempos atrás eu fiz uma lista com os cinco discos do nick cave dos quais eu mais gostava.

acho que hoje eu teria que rever essa lista, ou ampliá-la, para incluir the lyre of orpheus, o segundo cd de seu último álbum, que é duplo.

tenho ouvido todo dia, e ele não pára de tocar no rádio da minha cabeça.

a minha preferida, no momento, música para hoje, é essa.

everything is falling, dear
everything is wrong
it's just history repeating itself


yep.

babe, you turn me on

stay by me, stay by me
you are the one, my only true love

the butcher bird makes it's noise
and asks you to agree
with it's brutal nesting habits
and it's pointless savagery
now, the nightingale sings to you
and raises up the ante
i put one hand on your round ripe heart
and the other down your panties

everything is falling, dear
everything is wrong
it's just history repeating itself
and babe, you turn me on

like a light bulb
like a song

you race naked through the wilderness
you torment the birds and the bees
you leapt into the abyss, but find
it only goes up to your knees
i move stealthily from tree to tree
i shadow you for hours
i make like i'm a little deer
grazing on the flowers

everything is collapsing, dear
all moral sense has gone
it's just history repeating itself
and babe, you turn me on

like an idea
like an atom bomb

we stand awed inside a clearing
we do not make a sound
the crimson snow falls all about
carpeting the ground

everything is falling, dear
all rhyme and reason gone
it's just history repeating itself
and, babe, you turn me on

like an idea
like an atom bomb




 
em carne viva

sim, minha querida amiga, eu venho ultrapassando todos os graus de suportabilidade, tenho vivido em carne viva.

e, querida sis, pois é, talvez eu ainda não tenha chegado ao meu limite, ou talvez eu já o tenha ultrapassado faz tempo e nem percebi.


quinta-feira, outubro 21, 2004
 
20 maresfield gardens

meu amigo e guru para assuntos administrativos, esportivos, filosóficos e etc., sempre pronto para me animar para a vida, me manda essas belas e sábias palavras:

O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado a decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. o sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro.

sigmund freud, em o mal-estar na civilização.

fanx, j.!


 
don't forget to eat your vegetables

destrua-se com moderação.


 
últimas notícias do subsolo

não se preocupem. haverá espaço para os três condenados. um ao lado do outro.


e então a dúvida angustiante: quem vai ficar no meio?


terça-feira, outubro 19, 2004
 
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i need the ways and means to get through
i need an open heart to look to
nobody sees the same way i do
i need direction to get through


(teenage fanclub)


segunda-feira, outubro 18, 2004
 
sinto muito

viver dói.


 
word of the day

dizzy

Main Entry: 1diz·zy
Pronunciation: 'di-zE
Function: adjective
Inflected Form(s): diz·zi·er; -est
Etymology: Middle English disy, from Old English dysig stupid; akin to Old High German tusig stupid
1 : FOOLISH, SILLY
2 a : having a whirling sensation in the head with a tendency to fall b : mentally confused
3 a : causing giddiness or mental confusion b : caused by or marked by giddiness c : extremely rapid
- diz·zi·ly /'di-z&-lE/ adverb
- diz·zi·ness /-zE-n&s/ noun


 
i´m a swine you don´t wanna know me

(música para hoje. só por hoje.)

the libertines

well is it cruel or kind
not to speak my mind
and to lie to you
rather than hurt you
well, i'll confess all of my sins
after several large gins
but still i'll hide from you
and hide what's inside from you

and alarm bells ring
when you say your heart still sings
when you're with me
oh darling, please forgive me

but i no longer hear the music
oh no no no no no

and all the memories of the pubs
and the clubs and the drugs and the tubs
we shared together
will stay with me forever

but all the highs and the lows
and the tos and the fros
they left me dizzy
oh darling, please forgive me

but i no longer hear the music
oh no no no no no

well i no longer hear the music when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind is all too clear
music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
and with her my heart it disappeared

well i no longer hear the music
oh no no no no no

and all the memories of the fights and nights
under blue lights and all the kites
we flew together
love thought they'll fly forever

but all the highs and the lows
and the tos and the fros
they left me dizzy
oh won't you please forgive me

but i no longer hear the music
oh no no no no no

music when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind is all too clear

music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
and with her my heart it disappeared

but i no longer hear the music
oh no no no no no
and i no longer hear the music


segunda-feira, outubro 11, 2004
 
love is a form of madness
Nick Cave definitivamente entende do assunto.

Mulher Que Não Existe, obrigado pela dica.

...

A íntegra do texto está aqui:

http://www.anothermag.com/index.html

(issue 7, literature, nick cave)

...

"The Love Song must be born into the realm of the irrational, absurd, the distracted, the melancholic, the obsessive, the insane for the Love Song is the noise of love itself and love is, of course, a form of madness. Whether it be the love of God, or romantic, erotic love – these are manifestations of our need to be torn away from the rational, to take leave of our senses, so to speak. Love Songs come in many guises and are seemingly written for many reasons – as declarations or to wound – I have written songs for all of these reasons – but ultimately the Love Song exists to fill, with language, the silence between ourselves and God, to decrease the distance between the temporal and the divine".

(...)

All love relationships are by nature abusive and that this abuse, be it physical or psychological, is welcomed and encouraged:

“Better The Devil You Know” (Stock, Aitken and Waterman, and sung by the Australian pop sensation Kylie Minogue) is one of pop music’s most violent and distressing love lyrics.

Better The Devil You Know

Say you won’t leave me no more / I’ll take you back again / No more excuses, no, no / Cause I’ve heard them all before / A hundred times or more / I’ll forgive and forget / If you say you’ll never go / Cause it’s true what they say / Better the devil you know. / Our love wasn’t perfect, I know / I think I know the score / You say you love me, O boy / I can’t ask for more / I’ll come if you should call / I’ll be here every day / Waiting for your love to show / Cause it’s true what they say / It’s better the devil you know / I’ll take you back / I’ll take you back again

When Kylie Minogue sings these words there is an innocence to her voice that makes the horror of this chilling lyric all the more compelling. The idea presented within this song, dark and sinister and sad – that all love relationships are by nature abusive and that this abuse, be it physical or psychological, is welcomed and encouraged – shows how, even the most innocuous of Love Songs has the potential to hide terrible human truths. Like Prometheus chained to his rock, so that the eagle can eat his liver each night, Kylie becomes love’s sacrificial lamb bleating an earnest invitation to the drooling, ravenous wolf that he may devour her time and time again, all to a groovy techno beat. “I’ll take you back. I’ll take you back again.” Indeed. Here the Love Song becomes a vehicle for a harrowing portrait of humanity not dissimilar to that of the Old Testament’s Psalms. Both are messages to God that cry out into the yawning void, in anguish and self-loathing, for deliverance".


 
palavra do dia
luto


Datação
sXIII cf. FichIVPM

Acepções

substantivo masculino

1 sentimento de tristeza profunda por motivo da morte de alguém

2 luto (acp. 1) originado por outras causas (separação, partida, rompimento etc.); amargura, desgosto

3 tempo durante o qual devem manifestar-se certos sinais do luto (acp. 1)

4 o fato de perder um parente ou pessoa querida; perda por morte

5 (1789) a roupa, ger. preta, que traja a pessoa enlutada e p.ext. os crepes, os panos negros us. para forrar a câmara ardente, a casa, a igreja, a fachada de edifícios etc. em sinal de luto (acp. 1) por alguém; dó

6 conjunto de sinais externos (p.ex., negro no vestuário do mundo cristão, mas azul no Japão, branco na China etc.) que os costumes associam à perda de parente próximo ou pessoa querida

7 Rubrica: antropologia.

observância de formas de comportamento costumeiras e convencionais que expressam a desolação e o desespero por parte dos parentes do morto no período que se segue ao seu falecimento [Podem incluir, além de prescrições relativas às roupas, o isolamento, o jejum, a abstenção de sexo, a automutilação, o corte dos cabelos pela raiz etc.]

8 Rubrica: psicanálise.

ver trabalho do luto

9 Derivação: sentido figurado.
sombras, trevas


Locuções

l. aliviado

diz-se do luto que se segue ao luto fechado, menos rigoroso do que este e em que o maior tempo decorrido desde a perda permite o uso de algumas cores (esp. o roxo) e enfeites no vestuário

l. carregado, cerrado, fechado ou pesado
aquele que marca os primeiros tempos após a morte de pessoa querida, no qual a única cor admitida é o preto

estar de l.

1 estar triste, pesaroso

2 Derivação: por metáfora.

vestir-se de preto pela morte de algum familiar; estar de nojo


guardar l.

respeitar o período do luto, de acordo com os costumes de cada sociedade


pôr l.

vestir-se de luto por alguém

l. carregado, cerrado, fechado ou pesado

aquele que marca os primeiros tempos após a morte de pessoa querida, no qual a única cor admitida é o preto


Etimologia

lat. luctus,us 'dor, mágoa, lástima', de luctum, supn. de lugèo,es,xi,ctum,gére 'chorar (pela perda de alguém)'; ver 1lut-; f.hist. sXIII luito, sXIII luyto, 1344 loito, 1522 luto, 1858 lucto

Antônimos

alegria, regozijo

Homônimos
luto(fl.lutar)


sábado, outubro 09, 2004
 
estorvo

e disse o grande pensador e balconista do boteco:

"tem gente que nasceu pra atrasar a vida dos outros".


terça-feira, outubro 05, 2004
 
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fazia tanto tempo que não ouvia.

agora, música pra ouvir tomando vódega.

ou vinho barato.

you know what i mean.

don't you?

...



you could be my unintended
choice to live my life extended
you could be the one i'll always love
you could be the one who listens to my deepest inquisitions
you could be the one i'll always love

i'll be there as soon as i can
but i'm busy mending broken pieces of the life i had before

first there was the one who challenged
all my dreams and all my balance
she could never be as good as you

you could be my unintended
choice to live my life extended
you should be the one i'll always love

i'll be there as soon as i can
but i'm busy mending broken pieces of the life i had before

i'll be there as soon as i can
but i'm busy mending broken pieces of the life i had before

before you



sábado, outubro 02, 2004
 
o patrono da desordem

tendo madrugado hoje, deparei com as mulheres que trabalham na limpeza.

não me importo com o que meus colegas pensam e dizem sobre minha mesa e meu sítio arqueológico no pavilhão 5.

mas confesso que fiquei um pouco envergonhado ao ver as mulheres, que devem manter distância do meu cantinho, inclusive porque não conseguiriam limpar minha mesa mesmo.

e aí me lembro de uma história contada pelo elio gaspari sobre o barão do rio branco, que ele chama de "patrono da desordem" (me identifiquei de imediato com o homem). e a vergonha passa.

com a palavra, gaspari:

"empilhava papéis, mapas, maços de cigarros e jornais. quando a mesa não aguentava mais entulho, mandava vir outra, chamava o caos de "mar morto" e proibia que se mexesse na papelada. a sala de sua casa de petrópolis ficou imprestável porque as pilhas de papéis vedaram o acesso às janelas. no seu grande gabinete do itamaraty, comportava-se um pouco melhor. um argentino escreveu que ele o recebeu em frente a uma grande mesa, inteiramente desarrumada, onde havia espaço apenas para um mata-borrão e um prato cheio de guimbas de cigarro.

em nove anos de ministério, rio branco teve 14 mesas e todas ficaram na mesma sala. tinha também o hábito de comer e dormir no gabinete. (acabou morrendo nele, em 1912, aos 66 anos.) um dia foi encontrado estendido no chão, vestido. desmaiara estudando mapas".


 
caro diário

sábado, 09h16, pavilhão 5.

não vou reclamar.

apenas, como de costume ultimamente, fico triste ao lembrar de como já foi genuinamente divertido.

hoje, a primeira palavra que me vêm à cabeça para descrever esse dia é: melancólico.

e amanhã eu sei que a melancolia vai bater mais forte ainda.

ah, esquece, não pensa mais.